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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Cristão e a Política


Nos últimos 25 anos, o crescimento em número dos evangélicos coincidiu com uma maior conscientização das possibilidades da liberdade, do poder dos grupos e da democracia. Assim, de comportado e submisso curral eleitoral até final dos anos 70, os rebanhos evangélicos evoluíram para disputadas hostes de votos que poderiam ser capitaneados através de alianças dos caciques políticos com os pastores evangélicos.

Essa descoberta do crescente poder de voto dos evangélicos gerou algumas palavras de ordem nos arraiais evangélicos: "Irmão vota em irmão"; "O Brasil é do Senhor Jesus"; "Vamos ganhar nossas cidades para Cristo"; "Comunistas comem criancinhas"; "Vamos eleger o primeiro presidente evangélico do Brasil" (o Gal, Geisel, luterano, não eleito, era evangélico?); "Não troque seu voto por tijolo para a sua igreja"; "Vamos invadir o arraial do inimigo". Toda sorte de argumentação dita bíblica se espalhou para alicerçar posições a favor ou contra candidatos, partidos, ideologias.

Na história recente do Brasil, pastores evangélicos alcançaram as mídias de massa com discursos tanto revolucionários como extremamente conformistas, reacionários. Alguns pentecostais foram tachados de direitistas e outros de alienados; pastores de igrejas históricas e de teologias mais liberais foram associados a movimentos gays, esotéricos ou espiritualistas; igrejas envolvidas com movimentos sociais foram identificadas como o "perigo vermelho".

A conversão do diabo
A babel se instaurou nas planícies evangélicas: muitos inocentes úteis foram cooptados pela mídia secular para fazer discursos ora de ataque a evangélicos de uma facção, ora a defender pontos de vistas claramente profanos. Por outro lado, houve visível escalada da ambição de poder temporal por parte de muitos líderes, denominações, indivíduos e instituições evangélicas. Se a política se cristianizou, o fez às custas da profanação do poder eclesiástico.

Ao longo das últimas campanhas presidenciais, por exemplo, o sempre candidato Lula foi chamado de "diabo" por alguns líderes evangélicos. Hoje, a aliança do PT com o PL (partido onde atua preponderantemente a Igreja Universal) nos faz pensar: mentiram os pastores, no passado, ou o "diabo" se converteu?

A antes eterna polêmica - "Pode um pastor concorrer a um cargo público?" - foi amenizada por outras questões: que aliança "devemos" fazer? (implicitamente, este "devemos" significa "nós", igreja, denominação ou grupo evangélico de interesse); como ter certeza de que vamos eleger uma pessoa "comprometida com os princípios cristãos, custe o que custar"? Como de costume no meio evangélico, todos recorrem à Bíblia.


A Bíblia e a política

Usada como fonte da verdade para as diversas áreas do conhecimento humano, a Bíblia se presta a defender pontos de vista até mesmo antagônicos. Assim é que, sendo aplicada como base de doutrinas, teologias, ideologias ou interesses, os homens dela extraem os fundamentos de suas "particulares interpretações".

Como resultado dessa miscigenação de texto sagrado com casualidades humanas, descobre-se uma vasta literatura defendendo os mais diversos pontos de vista. De fato, há suficientes porções da Bíblia que nos permitem verificar que o povo de Deus viveu e participou dos fatos políticos - ativa ou passivamente - nos diversos períodos da história. Há um desfile imenso de personagens que ocuparam posições e exerceram poder político, quer tenha sido em relação ao povo de Deus como sobre nações pagãs: José, Moisés, Davi, Daniel e outros mais.

Se há evidências bíblicas e históricas no cristianismo tanto dos benefícios e como dos riscos da participação política, o que fazer, então? Dentre muitos textos bíblicos que possam nos fornecer alguns princípios para analisar este tema, recorro ao apólogo de Jotão, em Juizes, capítulo 9. Nele encontramos algumas luzes que podem iluminar o caminho das nossas decisões políticas.


Jotão, o sobrevivente

Gideão, juiz de Israel durante 50 anos, é mencionado em Hebreus 11.32 como um dos notáveis homens de fé no período do Velho Testamento. Não obstante tal reconhecimento, ele é citado também como exemplo de líder do povo de Deus que cedeu às pressões da idolatria. Ele manchou o final de sua vida com uma escolha que veio a "ser um laço... e à sua casa"(Juizes 8.27). Embora Gideão tenha resistido à tentação de aceitar a criação de uma dinastia real (8.22-23), a tal estola sacerdotal que fez para si representava a tentativa de usurpação de um poder maior ainda: o de ser o intermediário divino, o sacerdote.

O laço de Gideão logo se manifesta por meio de Abimeleque, um dos filhos de Gideão. Logo após a morte de seu pai, Abimeleque assassina sessenta e nove dos seus setenta irmãos - sobrevivendo apenas Jotão, que se escondera. A ânsia de poder provocou essa dissidência e Abimeleque proclama a cidade de Siquém - de onde sua mãe era originária - como um estado independente, chegando a dominar sobre todo o Israel durante três anos.

Jotão, compreendendo que a idolatria de seu pai agora se manifestava na rebeldia de Abimeleque, proclama a verdade aos moradores de Siquém: eles deveriam refletir sobre a escolha que estavam prestes a fazer, seguindo a Abimeleque.


A voz do profeta

O discurso de Jotão começa com uma advertência: "Ouvi-me... e Deus vos ouvirá" (9.7). Os homens de Siquém estava prontos a seguir um de seus filhos notáveis - Abimeleque - mas não compreendiam o caráter profético da condenação que pairava sobre ele. Jotão tentava adverti-los a não seguirem Abimeleque, que caíra no laço de desejar inaugurar uma dinastia real para Israel.

Gideão havia recomendado a todo Israel: "Não dominarei sobre vós, nem tão pouco meu filho dominará sobre vós; o Senhor vos dominará" (8.23). Mas as suas palavras foram abafadas pelo seu gesto seguinte, assumindo um poder sacerdotal do qual não fora investido. Quando Abimeleque mata os seus irmãos e oferece-se como "dominador", o gesto de Abimeleque falando mais alto: a sede de poder!

Depreendemos desse primeiro ponto do apólogo de Jotão que toda dominação sobre o povo de Deus não pode ser derivada de palavra humana. Antes, qualquer decisão precisa resultar de uma convocação profética para a igreja, destinada a ser sal e luz do mundo. Não devem os cristãos, individual ou coletivamente, ceder a argumentos, mas reconhecer a sua vocação profética em cada momento e lugar que vivam. A igreja que anuncia é a mesma que denuncia. O evangelho é perfume de vida, mas também perfume de morte. E Jotão começa a descrever tal forma de compromisso.


A oliveira

Os homens de Siquém compreendiam o significado dos elementos da paisagem rural da época - motivo pelo qual Jotão apelou para uma comparação singela, que todos pudessem compreender: os homens de Israel seriam as árvores e a oliveira seria uma primeira escolha de um tipo de rei, de governante. As árvores teriam dito à oliveira: "Reina sobre nós!". Mas, esta se esquivara, dizendo: "Deixaria eu o meu óleo, que Deus e o homem em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores?" (9.9).

A oliveira é a árvore da qual se extraía, por meio da prensagem do seu fruto, o azeite. Ela tipificava a fonte da unção do povo de Deus. Era da oliveira que vinha o caráter sagrado dos ritos e da religião, pois ela fornecia o óleo através do qual coisas, pessoas e animais eram consagrados.

A recusa da oliveira é a representação de uma posição típica do povo de Deus em todas as épocas: "Nós, os pastores, o povo de Deus, a Igreja, não devemos nos envolver nestas questões de política, de escolher quem vai nos governar. Não devemos comprometer a nossa unção". A recusa da oliveira é o posicionamento do cristão diante da política quando diz: "Isto nada tem que ver comigo, não me afeta - ou até mesmo pode me contaminar. Deus tem prazer na minha unção - e a minha pureza é também apreciada pelos homens". Certamente, o argumento é justo, mas desconhece um perigo que será explicado mais adiante por Jotão.


A figueira

A próxima alternativa para os homens de Siquém seria a figueira.

Uma curiosidade sobre a figueira nos permite entender porque tal árvore foi utilizada por Jesus como exemplo do que o pecado provocava em Israel: ela produz o seu fruto antes das folhas, ao contrário das demais árvores. Ela simbolizava, assim, a necessidade de uma espiritualidade verdadeira (os frutos), antes de uma religiosidade aparente (as folhas).

Esta era a próxima escolha que Jotão oferecia: "Se vocês rejeitam a Deus (desejando escolher um rei), e aos seus ungidos (a oliveira), pelo menos aceitem homens espirituais (figueiras com frutos). Mas, tal figueira não se apresentou disponível, se justificando: "Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria pairar sobre as árvores?" (9.11).

A recusa da figueira é, também, um sinal justo de precaução diante de outra verdade historicamente comprovada: muitos cristãos, envolvendo-se na política, perdem a sua "doçura" (espiritualidade), o seu fruto é arrancado da sua vida. Mas, é suficiente este argumento para então recusar uma chamada ao desafio de participar do ato de "pairar sobre as árvores" (governar, em algum sentido)? Igualmente, Jotão irá concluir que, não obstante a verdade do argumento da figueira em não se envolver, a sua recusa implicava em um perigo maior ainda.

A videira

A terceira alternativa oferecida por Jotão foi a videira - uma parreira de uvas.

Há mais de uma dezena de palavras em hebraico e grego para designar o que entendemos biblicamente como videira. Este fato realça um dos símbolos da videira, em termos bíblicos: prosperidade sobre toda a nação. Isto é, o vinho - resultado de prensar o fruto da videira - é o elemento presente nas festas, o símbolo da alegria. A diversidade dos frutos expressa nas muitas expressões da língua para representar a videira - típico de cada região e clima - alude ao fato de que as videiras se espalharam sobre todo o Israel. Era, assim, a prosperidade, a alegria, a paz, a força de Israel. A videira simboliza, deste modo, a bênção de Deus repartida sobre o Seu povo, o cumprimento das Suas promessas sobre a nação obediente. É a vitória dos valores divinos sobre os valores humanos.

Quando Jotão conta aos homens de Siquém que as árvores se contentariam apenas com a videira ("bons cristãos") para "pairar sobre as árvores", também lhes fala da recusa da videira: "Deixaria eu o meu vinho (os meus valores, as minhas bênçãos, a minha prosperidade)...?".

A recusa da videira representa o argumento de que as bênçãos de Deus e a prosperidade dos cristãos não devem ser desperdiçadas em "negócios deste mundo". Aparentemente, esta prudência se justificaria, mas ela desconhece o perigo que, finalmente Jotão proclama aos moradores de Siquém.

O governo do espinheiro

Somente ao sermos apresentados à opção do governo do espinheiro é que compreendemos que as três primeiras alternativas compunham três diferentes grupos de preferências, mais do que uma hierarquia de escolhas. Isto é, algumas árvores procuraram a oliveira; outras, a figueira; e outras mais, a videira. A ordem não especificaria uma distinção hierárquica entre unção, espiritualidade e valores. Ao contrário, as alternativas apresentadas por Jotão procuram relevar a necessidade da presença e preservação desses valores em todas as escolhas do cristão.

Mas, no caso do espinheiro, a escolha foi unânime: "...todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós". A linguagem não é mais uma amenidade - "pairar sobre nós", como que a demonstrar um certo nível de igualdade e tolerância entre as árvores. Não é um grupo aceitando um domínio consentido da oliveira, da figueira ou da videira sobre todas elas. Mais do que um consenso, o convite ao espinheiro é uma permissão expressa: "Vem tu [espinheiro], e reina sobre nós". Não há engano nessa escolha, pois a unanimidade dos participantes e a concordância de propósito atestam o caráter de uma decisão fruto de uma vontade coletiva. Jotão assim descreve como tal escolha parecia ter sido feita pelos habitantes de Siquém: "de verdade e com sinceridade" (9.16).

Diferentemente das árvores anteriormente convidadas, que centralizaram nas suas qualidades um argumento de recusa, o espinheiro realça a natureza do relacionamento que estaria por se tornar realidade. A oliveira não quis comprometer a sua unção. A figueira declarou-se zelosa de não arriscar a sua espiritualidade. Enfim, a videira não arriscou desperdiçar os seus valores. Mas o espinheiro, este foi ao ponto principal e disse: "Se vocês estão me escolhendo, saibam que eu vou assumir domínio sobre vocês!". Mesmo diante desta advertência, Abimeleque foi proclamado rei.

Escolhas e não-escolhas

Uma análise simples, baseada no apólogo de Jotão, nos permite reconhecer que há sempre duas grandes escolhas presentes na vida dos homens: o governo de Deus (que Gideão defendera em palavras, mas recusara com seu gesto de auto-unção) ou o governo dos homens (o domínio dos espinheiros). A alternativa de escolhermos entre a oliveira, a figueira ou a videira não é uma oposição ao governo do espinheiro. Antes, são o compromisso do cristão diante de qualquer tipo de "árvore que paire" sobre a sociedade. A unção, a espiritualidade e os valores do cristão são realidades que devem resistir até mesmo ao fogo do espinheiro.

O espinheiro é sempre a alternativa do poder temporal, secular - quer seja político, social, econômico ou das armas. O espinheiro sempre "cospe fogo" (9.15) para exercer seu domínio, e punir os que lhe resistem. Todo sistema humano de representação de poder é babilônico, demoníaco - por definição da natureza dos poderes deste mundo. Entretanto, a presença do cristão o torna "sal e luz" neste mundo. O cristão planta o poder de Deus, através das oliveiras, figueiras e videiras "no arraial do inimigo" - sempre expostas ao fogo do espinheiro.

As nossas escolhas não mudarão a natureza do governo do espinheiro - com o qual as alianças são impossíveis de se fazer. A cristianização de uma nação (uma espécie de evangelização sem Cristo, pelo domínio dos meios políticos) não produz a justiça de Deus. Entretanto, a não-escolha significa que estamos escolhendo o espinheiro, por omissão. Se a nossa unção, espiritualidade e valores não podem ser a expressão viva do poder de Deus - inclusive nas escolhas políticas - então seremos consumidos pelo fogo do espinheiro...!

Envolvimento ou não-envolvimento

Não é o escopo dessa singela reflexão esgotar as possibilidades teóricas sobre os pontos a favor ou contra o envolvimento do cristão na política - ou da Igreja nos poderes temporais. A realidade supera a vitória de qualquer discurso que vença a questão: o mundo sempre cobra o testemunho dos cristãos através das suas escolhas. Durante o holocausto nazista, o silêncio dos cristãos locais se fez rompido quando o pastor Bonhoeffer foi martirizado em um campo de concentração, às vésperas da capitulação do III Reich. Somente cinqüenta anos depois houve um meia culpa - que, mesmo assim dividiu os cristãos - quando muitas igrejas e líderes pediram perdão, publicamente, pelos seus atos de omissão enquanto Hitler "cuspia fogo" pelo espinheiro do nazismo.

A sociedade consumista, permissiva e egoísta que nos envolve já invadiu o arraial do povo de Deus. De tempos em tempos, vemos que a unção de líderes é comprometida pelas alianças indevidas; que a espiritualidade dos cristãos não é suficiente para evitar a corrupção de pastores, empresários, políticos e outros que se dizem cristãos. Os valores da vida cristã parecem não resistir à sedução de aceitarmos um confortável lugar de reconhecimento na sociedade. Honestidade, pureza sexual, fidelidade ao cônjuge, piedade em relação aos pobres e desafortunados, uso das nossas riquezas em prol da evangelização, amor à vida destruída pelo aborto, compartilhar bênçãos e valores - tudo isto tem deixado de ser o alvo das nossas escolhas. A conformação ao mundo remove a perseguição e a acusação de sermos legalistas, moralistas, radicais.

Mais poder, mais riqueza, mais fama tem substituído a prioridade de unção, espiritualidade e valores. Como conseqüência, o envolvimento na política pode correr o risco de ser, não uma empreitada de "iluminar" ou "salinizar" o mundo, mas uma verdadeira contaminação do povo de Deus e da Igreja. Mas não precisa ser assim.

Se um cristão, um líder ou denominação advoga um não-envolvimento, que avaliem até que ponto tal ato será uma omissão que acaba contribuindo para consolidar o poder do espinheiro. Por outro lado, se um cristão, um líder ou uma denominação defendem e participam politicamente, seu maior desafios são permanecerem fiéis ao chamado profético de influenciar, em lugar de serem influenciado. De serem luz, em lugar de trevas. De fornecerem saber, em vez de serem pisados pelos homens.

Testemunho e martírio
Para ambos - tanto para o que se envolve, quanto para o que não se envolve - a questão maior sempre será evitar o laço de rejeitar o governo pessoal de Deus sobre as suas próprias vidas. Os governos humanos e os poderes invisíveis são sempre passageiros - por mais que exerçam seus domínios por algum tempo.

Em tempos de aparente paz, a nossa luz é denominada "testemunho". Em tempos de perseguição, a palavra é "martírio". Ambas têm o mesmo sentido original, no Novo Testamento. João, o batista, pagou com o preço da sua vida, quando sua pregação denunciou as trevas que haviam se abatido sobre o trono de Israel. Seu anúncio do Messias era, ao mesmo tempo, denúncia da impiedade e da pecaminosidade do rei Herodes, o tetrarca. O testemunho de João foi o seu martírio, para obedecer a Deus, resistiu ao poder do rei.

Todas as autoridades estão debaixo do governo de Deus. Por este motivo, aumenta a nossa responsabilidade das "oliveiras", "figueiras" e "videiras" no processo de escolha na sociedade. Nossa omissão pode ceder lugar ao espinheiro. Mas, em cada geração, a principal escolha é sempre escolher o que não nos afaste de Deus. Eis o grande desafio.


Campinas, julho de 2002

Pr. Márcio Nogueira

Fonte: baixado do site EstudosBíblicos.spaceblog.com.br

Decálogo do Voto Ético

Aliança Evangélica Brasileira 
Conseguir benefícios para a igreja, como a doação de terrenos para templos; ter linhas especiais de crédito bancário; obter concessões de rádios e TVs; ter tratamento especial perante a lei... Esses são apenas alguns tipos de barganha, "acertos", acordos e composições de interesse que costumam ocorrer nos bastidores em épocas de campanhas eleitorais, envolvendo também políticos e candidatos evangélicos.

Mas, no que depender da AEvB - Aliança Evangélica Brasileira, os candidatos que costumam ter este tipo de comportamento não terão o voto dos fiéis.

Considerando que os evangélicos são um dos mais expressivos segmentos da população (18,9 milhões de eleitores evangélicos brasileiros ou 15,4% dos 126 milhões de eleitores, segundo o Censo 2000) - a AEvB, reunida em Conferência com Igrejas, Missões e Instituições, julgou indispensável trazer sua contribuição informativa e formativa à comunidade religiosa a ela vinculada, na intenção de contribuir para um processo eleitoral no qual o voto evangélico não seja manipulado, como muitas vezes já o foi, mas usado com consciência e objetividade, ajudando a igreja a amadurecer no exercício da sua cidadania política.

Eis aqui alguns balizamentos fundamentais sobre o uso ético do voto evangélico, conforme o sumário de propostas defendidas na Conferência da AEVB:

I. O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão que o cristão tem de seu País, Estado e Município;

II. O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente conduzir o voto da comunidade noutra direção;

III. Os pastores e líderes têm obrigação de orientar os fiéis sobre como votar com ética e com discernimento. No entanto, a bem de sua credibilidade, o pastor evitará transformar o processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução político-partidário;

IV. Os líderes evangélicos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar é organizar debates multipartidários, nos quais, simultânea ou alternadamente, representantes das correntes partidárias possam ser ouvidos sem preconceitos;

V. A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja evangélica no Brasil impõe que não sejam conduzidos processos de apoio a candidatos ou partidos dentro da igreja, sob pena de constranger os eleitores (o que é criminoso) e de dividir a comunidade;

VI. Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e comprometidos com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo religioso ou de uma denominação evangélica. É óbvio que a igreja tem interesses que passam também pela dimensão político-institucional. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político de fé evangélica tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um "despachante" de igrejas. Ao defender os direitos universais do homem, a democracia, o estado leigo, entre outras conquistas, o cristão estará defendendo a Igreja.

VII. Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor cristão não deve jamais aceitar a desculpa de que um evangélico político votou de determinada maneira porque obteve a promessa de que, em assim fazendo, conseguiria alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, terrenos para templos, linhas de crédito bancário, propriedades, tratamento especial perante a lei ou outros "trocos", ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais "acertos" impliquem na prostituição da consciência cristã, mesmo que a "recompensa" seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Jesus Cristo não aceitou ganhar os "reinos deste mundo" por quaisquer meios, Ele preferiu o caminho da cruz.

VIII. Os votos para Presidente da República e para cargos majoritários devem, sobretudo, basear-se em programas de governo, e no conjunto das forças partidárias por detrás de tais candidaturas que, no Brasil, são, em extremo, determinantes; não em função de "boatos" do tipo: "O candidato tal é ateu"; ou: "O fulano vai fechar as igrejas"; ou: "O sicrano não vai dar nada para os evangélicos"; ou ainda: "O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos". É bom saber que a Constituição do país não dá a quem quer que seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Além disso, é válido observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção de um candidato com o qual estejam comprometidos.

IX. Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: "o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto", é compreensível que dê um "voto de confiança" a esse irmão na fé, desde que ele tenha as qualificações para o cargo. Entretanto, é de bom alvitre considerar que ninguém atua sozinho, por melhor que seja o irmão, em questão, ele dificilmente transcenderá a agremiação política de que é membro, ou as forças políticas que o apoiem.

X. Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político-partidário, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina.

Fonte: AEvB

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Jesus, porém, dormia...




Texto Bíblico: Mt.8.23-27

O texto bíblico em análise mostra-nos justamente o momento em que os discípulos enfrentavam uma tenebrosa tempestade, e trás um detalhe no mínimo interessante Jesus estava o tempo todo dentro do barco e dormindo...
Confesso que esta expressão, Jesus dormia... sempre me causou um certo incômodo, como também acredito que deve inquietar muitos leitores da bíblia. Pensamos, como poderia o Senhor dormir numa hora dessas? É  parece que o sono de Jesus não incomoda somente a nós leitores, dois mil anos depois do  acontecido, incomodou bastante aqueles que estavam com Ele no barco, a ponto de ter sido indagado: “Não importa que morramos...”, “ Não está vendo que perecemos...” Parece que aquele sono realmente não foi bem compreendido...
Todavia, lendo o texto por diversas vezes e também a experiência diária com  o Espírito Santo, nosso paracleto divino, após diversas indagações como estas, lembrando, Deus agrada-se em responder os nossos questionamentos, pude extrair algumas conclusões, as quais quero compartilhar com os leitores, vejamos:
Jesus nesse momento, como Verbo Encarnado,  embora fosse Deus, era também cem por cento homem, ou seja,  estava submetido as mesmas condições e necessidades do ser humano normal, portanto, o mesmo estava sujeito a sentir sede, fome, sono etc., logo, o texto  indica que aquele dia foi duro, muitas andanças, evangelização, desgastes do cotidiano e tudo isto redundou em tremendo cansaço físico que propicia um sono profundo, não é em vão que Bíblia diz: “doce é o sono do trabalhador”. Portanto, a primeira conclusão óbvia após entendermos a natureza humana de Jesus, o verbo encarnado, é esta, o sono era uma decorrência natural do cansaço físico.
A segunda conclusão a que chegamos é a de Jesus dormia porque conhecia e confiava nos seus seguidores. Isto mesmo Jesus confiava nos discípulos, pois todos eram homens acostumados com o mar, eram pescadores natos nasceram e cresceram envolvidos com o mar e os seus perigos, logo, o Senhor sabia que estes homens estavam preparados para enfrentar as dificuldades naturais daquele meio.  
Note-se também que o Senhor queria testá-los através daquela tempestade. Lembre-se o Senhor muitas vezes pode permitir as tempestades para testar a nossa fé e o nosso discipulado. Jesus havia lhes dado lições preciosas sobre a fé, e acreditava sinceramente que os seus discípulos haviam aprendido aquelas lições, tanto que descansou e resolveu testar o seu aprendizado.  Podemos nesse ponto extrair mais uma lição preciosa sobre o Evangelho de Jesus, pois o mesmo não se trata apenas de teoria, mas de prática, experiências e  manifestações concretas do poder de Deus. Quantos tem vivido um evangelho apenas de teoria, um mero academicismo teológico etc, mas sem nenhuma aplicação prática, cabe uma reflexão!
Jesus sempre se preocupou em ensinar e delegar.Jesus valoriza o trabalho em equipe, nunca gostou de trabalhar sozinho, preocupou-se em formar a sua equipe, investiu boa parte do seu ministério para escolher e capacitar estes homens. Portanto, o Senhor os julgava capazes de enfrentar e cumprir aquele missão e por confiar, descansou.
O texto nos revela ainda que problemas acontecem mesmo Jesus estando dentro do nosso barco, ou seja, enquanto estivermos vivendo neste mundo imperfeito estaremos sujeitos as intepéries  da vida. Muitos cristãos hoje, a exemplo dos discípulos naquele momento, quando chegam as lutas e problemas não tem um discernimento correto de como agir. Muitas vezes somos surpreendidos por ventos contrários, o fato de termos entregue a vida a Cristo, não nos isenta de passarmos por tribulações neste mundo. Todavia, o diferencial não está no simples fatos de passarmos por problemas ou não, mas sim na forma como enfrentamos e reagimos  a eles.
Neste texto o Senhor nos dá uma poderosa lição sobre a forma que Ele espera que os seus seguidores se comportem diante das adversidades.  Ao invés  de uma postura derrotista e entreguista o Senhor nos exorta a agir com fé e exercitar a autoridade confiada ao seus seguidores.
Jesus esperava que os discípulos resolvessem a situação, tanto que quando foi acordado exortou-os severamente: “...Por que vocês estão com tanto medo, homens de pequena Fé...”. Naquele momento a forma como os discípulos se comportaram, a forma desesperada como abordaram o mestre, revelou uma tremenda falta de fé, o que levou o Senhor a exortá-los severamente.
 Portanto, o Espírito ilumina o meu entendimento de que realmente há  coisas que o Senhor espera que a gente resolva. Como você tem se comportado diante dos problemas, das dificuldades da vida? Lembre-se exercite a sua fé através das tempestades, Ele já nos capacitou, já nos deu do seu Espírito e também nos deu autoridade,  diz a palavra do Senhor: “ Todo poder me é dado no céu e na terra”(Mt28.18), mas esse poder também foi delegado a Igreja, diz assim a palavra: “ Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões e todo poder do inimigo não vos fará dano algum”(Lc 10.19). Portanto, Jesus trabalha por Delegação, ou seja, Ele nos capacitou para fazer a sua obra na terra, não podemos nos comportar de maneira imatura, como meninos na fé, mas agir com maturidade e exercitar a sua autoridade delegada e resolver determinadas situações, sinceramente, acredito assim.
Por fim, o texto em análise a Bíblia registra que Jesus se levantou e repreendeu o vento e o mar e fez-se completa bonança. Logo, era justamente isto que o Senhor esperava que os discípulos fizessem. Diz o Senhor: “ em meu nome fareis obras maiores do que estas...”(Jo 14.12).
Assim, que o Espírito Santo possa iluminar o nosso entendimento a cada dia, diante das diversas circunstancias da vida para que possamos orar de maneira correta, não como meninos na fé, cheio de dúvidas e incertezas quanto a autoridade da igreja e as  promessas de Deus, mas que possamos agir como varões perfeitos, ou seja, pessoas que conhecem os seus direitos em Cristo.
Portanto, não se lastime, não responsabilize o Senhor pelos desacertos da vida, mas levante-se identifique as tempestades e ventos contrários na sua vida ou na vida de pessoas que estão sob a sua zona de influência ministerial e repreenda lançando mão da autoridade confiada a nós através do singular e poderoso nome de Jesus.
Vença as tempestades com atitudes que revelam um coração maduro e firmado  no Senhor.

sábado, 18 de setembro de 2010

Aprovada a lei das igrejas


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TER, 06 DE JULHO DE 2010 16:51
A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) aprovou, nesta terça-feira (6), projeto de lei da Câmara (PLC 160/09) que trata dos direitos e das garantias fundamentais ao livre exercício da crença e dos cultos religiosos. A proposta surgiu no contexto de um entendimento, na Câmara dos Deputados, que possibilitasse a aprovação de acordo entre o Brasil e a Santa Sé, referente ao estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil. Com 19 artigos, o projeto reconhece, a todas religiões, direitos tais como representação nas capelanias das Forças Armadas, criação e administração de universidades e prestação de serviços em hospitais e entidades de assistência social.
O PLC 160/09 estabelece mecanismos que assegurem o livre exercício religioso, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias e a inviolabilidade de crença, bem como o ensino da religião. Na CE, o projeto recebeu parecer favorável do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). A matéria vai ser analisada ainda pelas Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).
A proposta declara livre a manifestação religiosa em locais públicos, desde que não contrarie a ordem e a tranquilidade. Dispõe ainda sobre a previsão de espaços para fins religiosos no plano diretor de áreas urbanas, bem como sobre a representação de cada credo religioso nas Forças Armadas.
Ao apresentar seu parecer, Inácio Arruda destacou emenda supressiva apresentada ao artigo 9º do projeto. Esse dispositivo reconhece a possibilidade de cada credo religioso ser representado por capelães militares no âmbito das Forças Armadas Auxiliares, uma organização a ser criada e que se assemelha ao Ordinariado Militar do Brasil - circunscrição da Igreja Católica que atualmente organiza e coordena as capelanias militares católicas do país. A emenda retirou o termo "Armadas" do nome dessa organização, encarregada de dirigir, coordenar e supervisionar a assistência religiosa aos seus fiéis nas Forças Armadas.
O projeto também reconhece o direito de as organizações religiosas e suas instituições poderem prestar assistência espiritual aos fiéis internados em estabelecimentos de saúde, de assistência social, educação ou similares, bem como aos que estiverem detidos em penitenciárias. Igualmente, as entidades religiosas poderão ainda administrar instituições de ensino em todos os níveis.
Procura-se assegurar também o reconhecimento da personalidade jurídica das instituições religiosas, mediante registro no ato de criação na repartição competente. Ao desenvolverem suas atividades de assistência social, essas pessoas jurídicas deverão ter todos os direitos, imunidades, isenções e benefícios concedidos pela atual legislação às entidades com objetivos semelhantes. Estabelece ainda imunidade tributária às pessoas jurídicas eclesiásticas e religiosas, conforme prevê a Constituição.
Em relação à proteção aos locais de culto, o projeto determina que nenhum edifício, dependência ou objeto utilizado nas celebrações religiosas pode ser demolido, ocupado, penhorado, transportado, sujeito a obras ou destinado ao Estado e a entidades públicas, salvo por motivo de utilidade pública ou interesse social.
Simone Franco/Helena Daltro Pontual / Agência Senado

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Dízimo: Celebração da Redenção



É impossível discutirmos a fundo as questões da nossa vida financeira e da nossa contribuição ao Senhor sem entendermos o que é a Redenção. No Livro do profeta Malaquias, no clássico texto a respeito dos dízimos, encontramos este nível de abordagem. Ao falar sobre a da retenção dos dízimos e ofertas, Deus chama isto de roubo:
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.” (Malaquias 3.8,9)
Uma abordagem do ponto de vista jurídico diria que o assunto abordado por Deus é uma questão de propriedade. Legalmente falando, envolve posse. E não há como falarmos de coisas que dizem respeito à propriedade de Deus, sem antes estudarmos a Lei da Redenção.
ENTENDENDO A REDENÇÃO
Para muitos cristãos, a palavra “redenção” não significa nada mais do que “perdão dos pecados” ou “salvação”. Mas o seu significado vai muito além disto!
A palavra “redenção” significa “resgate” ou “remissão”. Ela retrata o ato de se readquirir uma propriedade perdida. Antes de Deus estabelecer algumas verdades no Novo Testamento, Ele determinou que elas fossem primeiramente ilustradas no Antigo Testamento:
“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.” (Hebreus 10.1 – TB)
A sombra é diferente do objeto que a projeta. Assim também, o que se via nas ordenanças da Antiga Aliança eram características similares (em ordenanças “literais”) às dos princípios que Deus revelaria nos dias da Nova Aliança (práticas espirituais). Por exemplo, o ato da circuncisão deixou de ser “literal” e passou a ser uma experiência no coração (Rm 2.28,29). A serpente que Moisés levantou no deserto se tornou uma figura da obra redentora de Cristo na Cruz (Jo 3.14). Assim também, outros detalhes da Lei que envolviam comida, bebida e dias de festa, começaram a ser vistos, não como ordenanças “literais” pelas quais quem não as praticasse poderia ser julgado, mas como uma revelação de princípios espirituais, cabíveis na Nova Aliança:
“Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das vindouras, mas o corpo é de Cristo.” (Colossenses 2.16,17)
É desta forma que precisamos olhar para a Lei da Redenção no Antigo Testamento. Durante anos Deus fez o povo praticar pela fé uma tipologia do que Ele Mesmo um dia faria conosco. Foi assim com o sacrifício do cordeiro que os israelitas repetiam anualmente em várias cerimônias; por fim, vemos João Batista apontando para Jesus e dizendo:
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1.29)
Paulo se referiu a Jesus como sendo o Cordeiro Pascal (1 Co 5.7). Vemos nestas passagens que as práticas repetidas por centenas e centenas de anos visavam levá-los a entenderem uma figura que só seria revelada posteriormente. Com a Redenção não foi diferente.
O Livro de Rute nos mostra Boaz resgatando (ou redimindo) as propriedades de Noemi. Ele estava readquirindo uma posse perdida.
Toda dívida tinha que ser paga. Se uma pessoa não tivesse recursos para honrar os seus compromissos, ela deveria dar os seus bens em pagamento, e, se também não fossem suficientes, ela deveria dar as suas terras. E, se isto ainda não bastasse para a quitação da sua dívida, o próprio indivíduo (e às vezes até a própria família) deveria ser dado como pagamento. Isto faria dele um escravo!
Lemos em 2 Reis 4.1-7 que uma mulher viúva teria seus filhos transformados em escravos se ela não pagasse a sua dívida. E, quando isto acontecia com alguém, só havia duas formas de esta pessoa sair da condição de escravidão: ou alguém teria que pagar a sua dívida (um redentor), ou ela teria que esperar nesta condição até que o Ano do Jubileu (que se repetia a cada cinqüenta anos; a exceção ocorria quando o escravo também era um judeu – Êx 21.2) chegasse. Veja o que a Lei dizia acerca disto:
“Se teu irmão empobrecer e vender alguma parte das suas possessões, então, virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que seu irmão vendeu. Se alguém não tiver resgatador, porém vier a tornar-se próspero e achar o bastante com que a remir, então, contará os anos desde a sua venda, e o que ficar restituirá ao homem a quem vendeu, e tornará à sua possessão. Mas, se as suas posses não lhe permitirem reavê-la, então, a que for vendida ficará na mão do comprador até ao Ano do Jubileu; porém, no Ano do Jubileu, sairá do poder deste, e aquele tornará à sua possessão.” (Levítico 25.25-28)
Neste texto, que fala somente da perda da terra, e não da escravidão, vemos que havia três formas de alguém recuperar as suas posses:
• a redenção (o pagamento feito por um parente);
• o perdão da sua dívida, proclamado no Ano do Jubileu;
• a sua própria possibilidade de pagar caso viesse a prosperar (o que não ocorria no caso dos escravos).
Para o escravo, porém, só havia duas formas de ficar livre: o Jubileu (já vimos que a exceção a este prazo ocorria no caso de um hebreu ter sido comprado como escravo por um outro hebreu. Neste caso ele teria que libertá-lo depois de seis anos de servidão – Êx 21.2) ou a Redenção!
A redenção era o pagamento da dívida, feito por um parente próximo. Por meio do pagamento, ele comprava de volta tudo aquilo que se perdera. Assim a pessoa que fora escravizada não mais pertenceria a quem antes ela devia, mas ao que pagava sua dívida. Por exemplo: se eu me endividasse a ponto de perder todas as minhas posses e fosse transformado num escravo, e o meu irmão me resgatasse, eu não deixaria de ser escravo! Eu somente mudaria de amo! Eu passaria a ser escravo do meu irmão, porque ele me comprou!
E qual seria o proveito disto? De que adiantaria ficar livre de um, para se tornar escravo de outro? A diferença era que o novo dono era um parente e ele pagou aquela dívida por amor (uma vez que um escravo normalmente não custava tanto), e, justamente por causa do seu amor, ele trataria o escravo com brandura, com misericórdia.
O QUE CRISTO FEZ POR NÓS
Foi exatamente isto que Jesus fez por nós! Jesus Cristo nos comprou para Deus através da Sua morte na Cruz:
“… porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” (Apocalipse 5.9b,10)
O homem se transformou num escravo de Satanás ao render-se ao pecado no Jardim do Éden. A Bíblia declara que “aquele que é vencido fica escravo do vencedor” (2 Pe 2.19), e foi isto que ocorreu ao primeiro casal. Eles foram separados da glória de Deus e perderam a filiação divina. Adão foi chamado filho de Deus (Lc 3.38), mas esta condição não foi mantida. Quando Jesus veio ao mundo, Ele foi chamado de Filho Único de Deus (Jo 3.16), mas Ele veio mudar esta condição e passou a ser o Primogênito de muitos irmãos (Rm 8.29).
O Diabo se assenhoreou do homem e da Terra, que fora dada ao homem (Sl 115.16), e afirmou isto para Jesus na tentação do deserto (Lc 4.6). Mas Jesus veio pagar a nossa dívida do pecado, e, ao fazê-lo, garantiu a nossa libertação das mãos de Satanás:
“Ele nos resgatou do poder das trevas e nos trasladou para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a nossa redenção, a remissão dos nossos pecados.” (Colossenses 1.13,14 – TB)
Observe o termo “resgatou”, que aparece quando o apóstolo Paulo está falando que fomos transportados do Reino das Trevas e levados ao Reino do Filho de Deus. Depois, ele afirma: “no qual temos a nossa redenção”. Esta redenção foi um ato de compra, efetuado pelo pagamento da dívida do pecado:
“Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz; e tendo despojado os principados e potestades, os exibiu abertamente, triunfando deles na mesma cruz.” (Colossenses 2.14,15 – TB)
O Texto Sagrado revela que Jesus despojou os príncipes malignos. Segundo o Dicionário Aurélio, “despojar” significa: “privar da posse; espoliar, desapossar”. Isto nos faz questionar o que, exatamente, Jesus tirou destes principados malignos. O que eles possuíam que pudesse interessá-Lo? Nada, a não ser o senhorio sobre as nossas vidas! O despojo somos nós, que fomos comprados por Ele para Deus, e, a partir de então, passamos a ser propriedade de Deus. É exatamente assim que as Escrituras se referem a nós. Somos agora chamados de propriedade de Deus:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pedro 2.9)
Repetidas vezes encontramos a ênfase de que o Senhor Jesus Cristo nos comprou para Si. E o preço pago foi o Seu próprio sangue!
“Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.” (1 Pedro 1.18,19)
Portanto, quando Jesus nos comprou, Ele nos livrou da escravidão do Diabo, mas nos fez escravos de Deus! Coisa alguma do que “possuímos” é de fato uma propriedade exclusivamente nossa. Nem as nossas próprias vidas pertencem a nós mesmos! Somos propriedade de Deus! Ele é o nosso Dono! Conseqüentemente, tudo o que nos pertence, é d’Ele também!
Referindo-se ao Espírito Santo em nós, Paulo O chamou de “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus” (Ef 1.14 – ARC). Observe que o termo “herança” aparece associado aos termos “redenção” e “possessão”, pois é disto que o princípio da redenção sempre trata: o resgate da propriedade!
CELEBRANDO A REDENÇÃO
A consciência da Redenção deve provocar em nós uma atitude de gratidão e de culto a Deus. Paulo falou sobre vivermos uma vida de santidade, que é fruto desta consciência:
“Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (1 Coríntios 6.18-20 – ARC)
O apóstolo deixa claro, em três frases distintas, a ênfase de que somos propriedade de Deus. Primeiro ele afirma que não somos de nós mesmos. Depois ele declara que fomos comprados – e por um bom preço! E finalmente ele diz que o nosso corpo e o nosso espírito “pertencem” (verbo que indica posse) a Deus.
Portanto, separar-se do pecado e santificar-se para Deus é glorificá-Lo por meio do corpo. Não é um culto de palavras, mas não deixa de ser uma exaltação. É um culto de santidade e boa mordomia! Celebramos a Redenção não só por meio de cânticos, mas também de atitudes. Quando reconhecemos que Deus comprou o nosso corpo e cuidamos dele com a consciência de que ele é de Deus, estamos cultuando ao Senhor.
Da mesma forma, há um culto que é expresso não só por meio de palavras, mas também por nossas atitudes em relação às nossas finanças. Assim como Deus redimiu o nosso corpo, Ele também redimiu os nossos bens. Logo, da mesma forma como o bom uso do corpo (em santidade) glorifica a Deus, assim também o bom uso dos nossos recursos financeiros, que são de Deus, O glorifica!
A SIMBOLOGIA DO QUE JOSÉ FEZ
José comprou para Faraó todo o povo egípcio:
“Findo aquele ano, vieram a José no ano seguinte e disseram-lhe: Não ocultaremos ao meu senhor que o nosso dinheiro está todo gasto; as manadas de gado já pertencem a meu senhor; e nada resta diante de meu senhor, senão o nosso corpo e a nossa terra; por que morreremos diante dos teus olhos, tanto nós como a nossa terra? Compra-nos a nós e a nossa terra em troca de pão, e nós e a nossa terra seremos servos de Faraó; dá-nos também semente, para que vivamos e não morramos, e para que a terra não fique desolada. Então disse José ao povo: Hoje vos tenho comprado a vós e a vossa terra para Faraó; eis aí tendes semente para vós, para que semeeis a terra.” (Gênesis 47.18,19,23)
O que aconteceu com este povo? Deixaram de pertencer a si mesmos e passaram a pertencer a Faraó! O seu gado, as suas casas, as suas terras – tudo pertencia ao rei do Egito! Eles se tornaram servos de Faraó, para cuidarem do que era dele!
O que Cristo fez conosco por meio do Seu sacrifício na Cruz foi algo semelhante. Isto é o que significa “redenção”. Originalmente éramos propriedade de Deus, mas a nossa queda e o nosso pecado nos roubaram isto. Quando Cristo pagou o preço da nossa dívida, Ele nos remiu da mão daquele que havia se tornado o nosso dono, o Diabo. Quando declaramos que somos servos de Deus, estamos reconhecendo que não pertencemos a nós mesmos, e que tudo o que temos na verdade pertence ao Senhor. Somos apenas mordomos de algo que não é nosso! Não nos atolaríamos em dívidas geradas em caprichos e excessos, se andássemos com esta mentalidade. Se sempre tomássemos decisões na área financeira, com a consciência de que os recursos empregados pertencem ao Senhor, cometeríamos menos erros.
Quando José comprou aqueles egípcios para Faraó, tudo o que era deles passou a ser de Faraó; logo, toda a renda deles deveria ir para Faraó. Mas o que fez o rei egípcio com o povo? Ele tomou tudo o que era deles? Não! Ele permitiu que eles usassem a terra e os demais recursos para que vivessem; mas, para que se lembrassem sempre que tudo o que eles tinham não era deles, um quinto da colheita (ou 20% da renda) ia para Faraó:
“Há de ser, porém, que no tempo das colheitas dareis a quinta parte a Faraó, e quatro partes serão vossas, para semente do campo, e para o vosso mantimento e dos que estão nas vossas casas, e para o mantimento de vossos filhinhos.” (Gênesis 47.24)
E o que os egípcios fizeram? Ficaram reclamando e dizendo que era injusto? Claro que não! A reação deles foi justamente o contrário:
“Responderam eles: Tu nos tens conservado a vida! Achemos graça aos olhos de meu senhor, e seremos servos de Faraó.” (Gênesis 47.25)
Viver como servos de Faraó era para eles um privilégio, pois nem vivos estariam, se não fosse a intervenção do rei! Eu vejo nisto um perfeito paralelo do que Deus fez conosco. As nossas vidas e tudo o que tínhamos passaram a pertencer ao Senhor, mas Ele não queria tomar tudo de nós! Ele queria que continuássemos vivendo! Ele queria que vivêssemos melhor do que viveríamos se não fôssemos mordomos Seus. É como se Ele estivesse nos dizendo:
“Vão em frente! Usem o que é Meu para que vocês possam viver as suas vidas e continuar produzindo, mas não quero que vocês se esqueçam que vocês são apenas mordomos do que não pertence a vocês. Então, de toda a sua renda Eu quero um décimo (dízimo) para Mim, além do que vocês me darão espontaneamente!”
E sabe o que muitos crentes ainda dizem?
“Isto não é justo!”
Como isto pode ser algo injusto? Ao invés de nos regozijarmos por pertencermos a Ele e podermos servir Aquele que redimiu as nossas vidas, reclamamos muitas vezes por termos que devolver um pouco do que é d’Ele. Isto é ingratidão! É falta de compreensão do que é a Redenção!
Há pessoas que consideram os dízimos como se Deus quisesse tirar dez por cento do que é nosso. Mas esta não é a perspectiva correta. É Deus que permite que fiquemos com noventa por cento do que é d’Ele! A maioria de nós ainda não conseguiu compreender que a entrega dos dízimos é uma forma de celebrarmos a Redenção. Ao dizimarmos, não só expressamos gratidão pelo que Ele fez por nós e nos mantemos conscientes do nosso lugar em nosso relacionamento com Deus, mas também realizamos um ato profético.
UM ATO PROFÉTICO
A entrega dos dízimos é um ato profético. Semelhantemente aos israelitas que, ao celebrarem a primeira Páscoa praticaram um ato profético, assim também fazemos algo semelhante ao dizimarmos.
Deus advertiu que naquela noite o Anjo da Morte haveria de matar todos os primogênitos dos homens e dos animais no Egito (Êx 12.12). Em todas as pragas anteriores, os hebreus haviam sido poupados, mas, naquela noite, a proteção não seria automática, mas dependeria de um ato profético, com um simbolismo espiritual. Cada um deles deveria aplicar o sangue do cordeiro da Páscoa aos umbrais de suas portas:
“O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito.” (Êxodo 12.13)
O sangue de um animal não tinha o poder de promover em si uma proteção espiritual. Ele era só um sinal, uma mensagem simbólica! Era um ato profético, por meio do qual eles reconheciam a redenção de Deus em suas vidas naquela noite e apontavam para o futuro, quando Cristo viria nos resgatar e nos proteger por meio do Seu sangue vertido na Cruz.
O interessante é que os hebreus não precisavam se proteger. Eles somente precisavam cumprir o sinal que foi estabelecido por Deus. Então, o próprio Deus cuidaria da proteção deles. Mas, se não O obedecessem, não fazendo o sinal de proteção, então a morte dos seus primogênitos seria inevitável:
“Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia; nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã. Porque o Senhor passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir.” (Êxodo 12.22,23)
Há algo que precisa ser entendido aqui. Deus diz: “Eu passarei pelas portas… Eu ferirei os primogênitos…” Em primeira instância, parece que é Ele fazendo tudo pessoalmente, mas não é isto o que vemos aqui. Vemos Deus determinando a execução do juízo, mas não exercendo-o sozinho e diretamente. O versículo 23 termina dizendo que Deus não permitiria que o Destruidor entrasse. Logo, quem executava as mortes não era Ele pessoalmente, mas um anjo. Vários textos do Antigo Testamento mostram enfaticamente Deus exercendo este juízo (Nm 33.4; Sl 135.8), mas a forma como Ele executou isto é o que estamos discutindo aqui.
E que anjo era este? Ele foi chamado de “Destruidor”. Curiosamente, este mesmo nome é dado ao Anjo do Abismo, cujo nome em hebraico é “Abadom”, e o nome em grego é “Apoliom” (ambos significam “destruidor”); e a Palavra de Deus declara que ele era o rei sobre os outros anjos que saíram do abismo (Ap 9.11)! No juízo que Deus determinou sobre a cidade de Jerusalém, o Anjo Destruidor também foi enviado (1 Cr 21.15). Satanás executa atos de juízo divino quando ele é liberado para ferir e destruir os que desobedecem. E não tenho medo de dizer que quem de fato exerceu o juízo de Deus naquela noite foi o Diabo, o Anjo da Morte.
As Escrituras dizem que um espírito maligno da parte do Senhor atormentava a Saul (1 Sm 16.14-16). Isto não quer dizer que o espírito maligno era do Céu, mas que ele foi autorizado por Deus para exercer juízo sobre quem se afastou deliberadamente do Senhor!
O sangue naquela noite era um sinal de propriedade. E o Diabo não pode ir além do sangue. Lemos em Apocalipse 12.11 sobre um grupo de fiéis que venceram a Satanás, e o texto revela que eles o venceram pelo sangue do Cordeiro! Satanás não pode tocar no que é de Deus.
Conheci pessoas que foram alcançadas por Jesus e que antes serviam aos demônios. Eu ouvi pessoalmente de algumas delas que, antes da sua conversão, elas tiveram experiências que as fizeram refletir sobre o cuidado de Deus com os Seus. Uma destas pessoas, a irmã Vilma Laudelino de Souza (hoje missionária), quando pertencia à magia negra, tentou matar uma crente com os seus trabalhos, mas o demônio disse que não poderia fazer nada contra tal pessoa, a qual, nas palavras dele mesmo, tinha um “espírito terrível”. Uma outra pessoa, o irmão Carlos (hoje pastor), quando ainda era um bruxo, tentou violar o túmulo de uma cristã, mas a entidade que lhe apareceu materializada no momento do trabalho disse que o Carlos não poderiam tocar naquele corpo, uma vez que ele pertencia a quem o próprio demônio chamou de “O Homem Lá de Cima”! Aleluia! Se até os restos mortais do crente, que sofreram decomposição, estão sob proteção divina, o que não dizer de nós hoje, de nossas famílias e bens?
Quando um hebreu estava colocando o sinal do sangue na porta, ele estava dizendo com aquele gesto que aquilo era propriedade de Deus e não podia ser tocado. E sempre que a Redenção está em questão, Deus decide defender pessoalmente o que é Seu. Foi assim na Páscoa, e é assim com os nossos dízimos hoje. Quando dizimamos, Ele Mesmo repreende o Devorador!
No momento em que o crente entrega os seus dízimos diante de Deus e de todo o reino espiritual, ele está reconhecendo a Redenção e a conseqüência de ter a Deus como seu Dono, bem como de tudo o que lhe pertence. Diante deste reconhecimento, o Senhor mesmo afasta o Devorador e protege o que é d’Ele. E o Diabo não se atreve a tentar tocar no que pertence a Deus!
Mas, quando desobedecemos o mandamento referente aos dízimos, estamos declarando que Deus não é o Dono destas quantias. E não só estamos roubando os dízimos (o que é uma apropriação indébita do que é de Deus), como também estamos nos apropriando dos noventa por cento que ficam. E, ao fazermos isto, o Diabo está de longe, assistindo tudo. Aí então ele diz: “Ah, este dinheiro não é de Deus? O que é de Deus eu não posso tocar, mas o que é seu…”
E é aí que as perdas ocorrem! Devemos fazer dos dízimos um ato de celebração da Redenção. O número dez está ligado à simbologia da Redenção. Mesmo quando ele fala de prova (nos Dez Mandamentos) ou juízo (nas dez pragas), é porque a Redenção está por trás da história. O cordeiro da Páscoa deveria ser escolhido no dia dez do mês de Abib (Êx 12.3). Ao entregarmos os nossos dízimos, devemos ser gratos pela Redenção e compreender que, através deste gesto, redimimos os noventa por cento da renda restantes para administrá-los para o Senhor.
PERDAS E GANHOS
Muitos não entendem a bênção e a maldição mencionadas por Malaquias em sua profecia. Acham que Deus ameaça os Seus filhos, para que O obedeçam por medo, mas não se trata disto!
Vimos que o Diabo não pode tocar no que é de Deus, mas ele pode tocar em nosso dinheiro quando deixamos de reconhecer a Deus como Dono de tudo o que temos. Devido ao nosso pecado de roubarmos o que é de Deus, o Maligno encontra uma brecha para nos tocar. Esta é a razão pela qual a maldição fere os que negligenciam a entrega dos dízimos. As perdas se manifestam em decorrência de uma maldição, a qual, por sua vez, entra em nossas vidas pela desobediência.
Por outro lado, a bênção proveniente da fidelidade nos dízimos também precisa ser entendida. Ela não se trata de uma recompensa por um bom comportamento, mas dos princípios que estão sendo devidamente aplicados pelo cristão. Será que há ganhos para os que dizimam? Claro que sim! Mas eles não devem ser vistos como se Deus estivesse aumentando o nosso patrimônio, e sim como uma forma de Deus aumentar o patrimônio d’Ele, sob nossa mordomia. Jesus nos ensinou um princípio que rege vários aspectos da vida cristã:
“Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.” (Lucas 16.10)
Se não dizimarmos o pouco que Deus nos confiou, mas O roubarmos, com uma atitude de infidelidade em nossa mordomia, Ele não nos confiará mais, pois continuaríamos sendo injustos no muito. Esta infidelidade impede a bênção financeira sobre quem retém os dízimos!
Por outro lado, quem é fiel no pouco também o será no muito. Se demonstrarmos obediência, dizimando o que já temos, Deus nos confiará mais dos Seus bens. Esta é a prova que determina quem receberá mais do Senhor e quem não receberá!
MANTENDO-NOS CONSCIENTES
Jesus instituiu uma Ceia Memorial para que sempre recordássemos o que Ele fez por nós na Cruz (1 Co 11.24,25). O Senhor conhece a nós, como também a nossa inclinação ao esquecimento do que Ele fez por nós. Portanto, Ele estabeleceu uma forma de nos manter conscientes do que Ele fez. Os dízimos também servem para este mesmo propósito. A sua relação com a Redenção deve nos manter conscientes de que Deus é o nosso Dono e que somos propriedade Sua.
Assim como a Ceia faz parte de um culto de gratidão e anuncia uma mensagem (a morte do Senhor até que Ele venha – 1 Co 11.26), assim também a entrega dos dízimos celebra a Redenção e testemunha à nossa consciência que pertencemos ao Senhor. É interessante observarmos que a primeira menção dos dízimos na Bíblia aparece justamente num contexto de redenção (Abraão resgatando o seu sobrinho Ló), juntamente com a tipologia da Ceia: Melquisedeque (que recebe os dízimos) veio ao encontro de Abraão, trazendo pão e vinho. Quando temos o Culto de Ceia na igreja que eu pastoreio, deixamos para entregar os nossos dízimos no momento em que participamos da Ceia. Assim como celebramos a Ceia, lembrando o que o Senhor fez por nós na Cruz, assim também celebramos a Redenção ao entregarmos os nossos dízimos.
Quando você entregar os seus dízimos em sua igreja local, faça-o com esta consciência. Uma atitude correta com relação ao que você oferece ao Senhor é um passo vital para você desfrutar das Suas bênçãos!
(Extraído do livro “Honrando ao Senhor Com Nossos Bens”, de Luciano Subirá)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

COMO MATAR UMA IGREJA





As igrejas do Novo Testamento não morrem de morte natural: elas são de tal forma estabelecidas que não podem morrer de morte natural. Sim, elas podem ser mortas, mas dificilmente o são por ataques externos (a não ser que este aniquile toda a membresia): na grande maioria dos casos em que igrejas foram mortas, elas o foram por ataques internos, sendo os seus próprios membros que as mataram. Uma igreja não é apenas uma organização, ela é também um organismo, uma coisa viva; e, como tal, tem o potencial de crescer e florescer, ou de definhar e morrer. O Senhor prometeu que Sua igreja, considerada como uma instituição, não morreria, Mat 16:18 [
... Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela]; mas isto apenas significa que haverá uma continuidade de igrejas [locais] seguindo o modelo da igreja de Jerusalém, até Seu retorno; não garante a continuidade de existência [e de fidelidade] de nenhuma igreja individual. Como então pode uma igreja ser morta?


I. POR VOCÊ SE AUSENTAR DELA

As Escrituras comparam os membros da igreja com os membros de um corpo físico, 1Cor 12:12-14 (Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos). E, exatamente como os órgãos do corpo humano não podem ser removidos sem que a morte venha para todo o corpo, assim é com a igreja, o corpo de Cristo. Quando os membros da igreja começam a se ausentar dela, isto a leva à morte.

Geralmente isto é algo gradual, começando em primeiro lugar com a negligência nas assembléias, porque “não importa se eu comparecer ou não. Os outros farão com que as decisões sejam tomadas do modo que lhes agrada”.

Os cultos dos domingos à noite são, realmente, o grande e rigoroso teste do amor do membro da igreja ao Senhor, porque muitas pessoas vêm para a igreja nos cultos do domingo pela manhã simplesmente porque não há nada mais a fazer exceto ficar em casa (naturalmente, há muitos cristãos professos que abandonarão a Casa de Deus mesmo no domingo pela manhã, a fim de dormir, estes constituem o tipo mais infiel). Mas, daqueles membros da igreja que regularmente assistem aos cultos das manhãs de domingo, muitos, de modo algum, poderão ser encontrados nos cultos das noites. No entanto, as mesmas desculpas que parecem válidas para não irem aos cultos da igreja, não são dadas quando são convidados para uma festa, ou quando podem ganhar uma significativa quantia de dinheiro indo a certos locais, etc. Mas, algum dia, o Senhor ajustará as contas. "
Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o SENHOR pesa o espírito". Pro 16:2. [Nota da tradutora: este parágrafo poderia ser adaptado levando em conta que, no Brasil, o horário de culto de freqüência bem maior que os outros passou a ser o dos domingos à noite, enquanto que, nos Estados Unidos, continua sendo o dos domingos pela manhã].

Alguns membros de igrejas as abandonam permanentemente, para nunca mais a ela retornarem; mas, se considerarmos as conexões entre os dois versículos em Heb 10:25-26 (
Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia. Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados), descobriremos que isto é uma indicação de que o indivíduo era somente um falso crente. O mesmo é verdadeiro em 1Joã 2:19, "Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós".


II. POR MATÁ-LA DE FOME.

Uma igreja vive e cresce somente pelas conversões e pela adição daqueles convertidos ao seu número de membros; portanto, se não for alimentada por verdadeiras conversões resultantes de pregação e oração, cedo morrerá por falta de adições. Almas sendo salvas constituem uma transfusão de sangue para qualquer igreja."Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar". Ato 2:47. Deus é quem adiciona à igreja, mas Ele o faz através de orações e do pregar e do testemunhar de Seu povo.

Uma igreja pode ser morta por inanição de espiritualidade; temos que nos lembrar de que a degenerada Igreja de Roma [muito antes do início da Igreja Católica Apostólica Romana com o imperador Constantino, em cerca do ano 325 a.C.] foi uma vez uma igreja do Novo Testamento, até que perdeu a sua espiritualidade. Heresia em doutrinas é primeiramente precedida por heresia em práticas; por exemplo, heresia que se expressa por uma vida carnal. Como isto pode ser evitado? Por seus membros viverem uma vida santificada (dedicada) dia a dia (não semana a semana, nem mês a mês). Mas dedicação requer negar-se a si mesmo, e todos os muitos crentes meramente nominais estão relutantes em fazer isto.

Portanto, é possível abandonar uma igreja para que ela morra não a sustentando com orações e finanças. Uma igreja é um negócio – o maior, o mais nobre e mais precioso negócio no mundo; e, por esta razão, precisa de dinheiro para poder funcionar. Uma vez que ela é um negócio do céu, necessita, em adição ao dinheiro, das orações do povo de Deus. Alguns crentes nominais são muito mais diligentes e empenhados em sabotar a igreja, o pastor e aqueles que estão fielmente trabalhando na igreja, do que o são em orar pela igreja e seus líderes, e em ajudá-los. Há uma verdade que se aplica tanto aos crentes quanto às mulas: Ambos [crentes e mulas] não podem fazer seus trabalhos e produzir enquanto estão escoiceando; e não podem escoicear enquanto fazem seu trabalho e produzem. Quanto à falha do povo de Deus em adequadamente sustentar financeiramente a igreja, Mal 3:8-10 (
Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes) ainda está na Bíblia, e ela chama o sonegador de dízimos e de ofertas justamente pelo que ele é – um ladrão. Não resolve alguém dizer: "Mas isto é no Velho Testamento". A divisão da Bíblia em Velho e Novo Testamento é estritamente uma divisão feita pelo homem; elas, as Escrituras, não sabem nada a respeito disto. Mas de qualquer modo, 1Cor 9:1-14 obriga crentes a sustentarem a igreja precisamente do mesmo modo que o Tabernáculo foi sustentado – por dízimos e ofertas. Veja especialmente v. 14.
(
... 4 Não temos nós direito de comer e beber? 5 Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? 6 Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? 7 Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado? 8 Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo? 9 Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois? 10 Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante. 11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais? 12 Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo. 13 Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? 14 Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho).


III. POR CONTENDA DENTRO DELA

Contenda provavelmente tem matado quase tantas igrejas quanto quaisquer outras coisas. Quando duas pessoas estão em discórdia e ambas são supremamente egoístas, isto causará uma contenda que crescerá até que consuma toda a igreja, a não ser que a igreja tome medidas até dar um fim à contenda. Contenda é uma marca característica de imaturidade espiritual e de carnalidade. "1 E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. ...3 Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens" 1Cor 3:1,3.

Contenda tem geralmente suas raízes no orgulho, porque aonde há contenda, ambas as partes inchadamente assumem que estão certas e não admitirão sequer a possibilidade de estarem erradas. Ao mesmo tempo, nenhuma das partes tentará ver através do ponto de vista da outra parte, nem admitirá que a outra poderia estar certa no menor dos graus. É uma igreja muito afortunada aquela que não tem nenhuma corrente subterrânea de contenda. Contenda também é promovida pela atitude de autojustificação naquele que olha com desprezo para os outros, enquanto exalta a si próprio na sua própria mente. Ele toma a atitude do Fariseu em Luc 18:9-11 (
E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano). O orgulho é obstáculo ao caminho da humildade, e esta é sempre o primeiro passo em direção ao arrependimento.

Uma das formas mais trágicas de contenda dentro de igreja ocorre quando um membro ou grupo de membros tem os seus sentimentos feridos pela pregação (o que é muito comum onde o pregador é fiel em pregar contra pecado e em declarar os deveres dos membros). Freqüentemente os membros dissidentes montarão uma campanha para desgastar e destruir o pregador, e a desculpa mais freqüentemente usada é que ele é um “ditador”. Bem, nós não temos nenhuma simpatia para com um verdadeiro ditador no púlpito, mas antes que um homem de Deus seja estigmatizado como ditador é melhor que os homens considerem aquilo para o que o pregador é comissionado e ordenado fazer: ele é ordenado e comissionado para "
Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina", (2Tim 4:2). "Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor", (1Tim 5:20). "Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé", (Tit 1:13).

Com base nestes versículos e em outros muitos textos similares, o pregador tem o dever não apenas de declarar a verdade mas, também, de repreender aqueles membros que estão vivendo vidas desobedientes; e ninguém tem o direito de chamá-lo de ditador por apenas fazer a sua obrigação. Isto não quer dizer que o pregador possa usar o púlpito para viver surrando verbalmente alguns membros por causa de diferenças pessoais de opinião, nem que ele deva saltar em cima e esporear todas as pessoas por todos os pequenos passos imperfeitos. O pastor sábio rapidamente aprenderá a usar a psicologia cristã mesmo nas mais sérias violações da ética cristã, e que "
A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira", Prov 15:1. Um pastor beligerante ou arrogante somente produzirá dores para si próprio e desencorajamento para a igreja.

Contenda entre os membros de uma igreja e o pastor freqüentemente destrói uma igreja pela simples razão que, ao se rebelarem contra o pastor, os membros estão se rebelando contra o Senhor, pois, embora a igreja possa votar para chamar um homem para pastor, todavia, se eles são guiados pelo Senhor ao fazer isto, então o pastor é tornado o superintendente ou supervisor (no grego “1984 episkope”, traduzido como "bispo") sobre o rebanho, Ato 20:28 (
Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue). Não apenas isto, mas o pregador, quando se ergue para declarar o evangelho, é um embaixador de Cristo, insistindo aos homens, no lugar de Cristo, para que se reconciliem com Deus, 2Cor 5:18-20 (E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus). Ademais, quando [este supervisor pelo bem das almas] prega responsabilidade cristã aos crentes, estes estão obrigados a obedecê-lo e a submeter-se a si próprios, pois o pastor dará conta deles a Deus. Assim, é uma coisa muito grave desobedecer ao pastor quando ele apenas está se esforçando para levá-lo a servir ao Senhor melhor e mais fielmente. "Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil", (Heb 13:17).

 Algumas igrejas degradam o ofício pastoral tornando-o aquele de um mero marionete delas, e tratam o pastor com menos respeito do que a qualquer leigo na igreja; algumas vezes os membros dessas igrejas deixam suas independência e autonomia subirem às suas cabeças, e pensam que podem desligar ou despedir o pregador a qualquer momento que não gostem daquilo que diz. Mas é digno de nota que as Escrituras não dão um único exemplo de um pastor ser descartado por uma igreja, nem de sequer uma igreja desafiar a autoridade do ofício pastoral.

Reconhecemos que a igreja tem autoridade sobre seus membros, inclusive o pastor; mas é também verdade que o pastor é um homem especialmente chamado por Deus para o seu ofício, e que ele tem um relacionamento especial para com Deus; portanto, conquanto em raras ocasiões possa ser necessário destituir e excluir um pregador por causa de imoralidade ou de heresia, todavia uma igreja deve ser muito vagarosa para tomar qualquer ação contra um dos profetas do Senhor sem uma boa razão. "
Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas", (1Tim 5:19). "Não toqueis os meus ungidos, e não maltrateis os meus profetas", (Sal 105:15).


IV. POR TEIMOSIA REBELDE

Nas Escrituras, teimosia rebelde é um pecado que é comparado ao de feitiçaria e idolatria 1Sam 15:22 (Porém Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros), e, todavia, algumas pessoas parecem se deliciar em teimosamente resistirem contra todo progresso espiritual e atividade espiritual na igreja. Não é nenhuma virtude alguém ser tão imutável nos seus modos que seja um obstáculo à igreja para mudar para melhor [isto é, para maior biblicidade, maior espiritualidade, maior santificação, maior separação do pecado e do erro, maior conhecimento + amor + consagração + zelo, etc.]. Nenhuma igreja jamais foi tão perfeita quando começou que isto equivaleu a não ter deixado nenhum espaço para mudar para melhor. Em verdade, a própria santificação é uma progressiva mudança de indivíduos para o melhor; e, se os membros diariamente mudam para melhor, também as igrejas deveriam fazê-lo. O pecado da Igreja de Sardia foi que ela teimosamente se recusou a se arrepender de seus pecados, Apo 3:3 (Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei), e, conseqüentemente, lentamente morreu na videira, sempre recusando admitir seu estado frio e indiferente. Existe uma coisa chamada de “ortodoxia morta”, uma sanidade doutrinária que é vazia de qualquer real amor a Cristo.

Alguns dizem “Bem, é minha vida, e é somente da minha conta se eu me arrependo ou não”, mas isto não é verdade, pois cada pessoa é um exemplo para alguém mais, e seu mau exemplo fará outros se desviarem, talvez em algo muito pior. Ademais, a corrupção de um membro de uma igreja [além de em si já ter valor infinito (pois o preço de uma só alma é maior que todo o universo físico), normalmente leva à conseqüência de que] será a corrupção de boa parcela da igreja, pois "... um pouco de fermento faz levedar toda a massa”, 1Cor 5:6. Ninguém suportará pagar o custo de mostrar indulgência para com qualquer pecado, porque pecado nos membros da igreja é aquilo que mata as igrejas.

Há muitos modos de matar uma igreja, mas a coisa importante a se observada é as gravíssimas conseqüências de fazer cair e destruir uma igreja do Deus vivo:
Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo", 1Cor 3:17. Não importa qual desculpa possa ser dada, se um indivíduo ou grupo de indivíduos conduz a si próprio de modo a causar a morte de uma igreja, é melhor que se prepare para dentro em breve encarar o julgamento de Deus através da perda de sua vida física.

Uma igreja é de mais importância que os direitos coletivos de todos seus membros, pois uma igreja existe não apenas em benefício dos seus próprios membros atuais, mas é uma testemunha para muitos que podem nunca vir a ser membros dela, mas que podem ser guiados ao Senhor através do seu ministério. Não apenas isto, mas os direitos dos futuros membros também têm de ser considerados quando se toma qualquer ação que possa ser prejudicial à igreja. Muitos membros carnais de igreja, em seu ardor para vencerem e imporem as suas próprias preferências, justificam os seus próprios pecados, satisfazem a fome de seus próprios orgulhos e sentimentos feridos, não se importando com o fato de que possam apagar o único fiel farol e luz da verdade nas suas comunidades. Nem se importando que as gerações futuras possam não ter oportunidade de ouvir o evangelho e ser salvas, porque uma igreja foi destruída pela carnalidade dos seus membros. A atitude de alguns é: “Eu estou salvo, portanto que o resto do mundo vá para o inferno, não ligo a mínima”. Uma tal atitude dificilmente evidencia verdadeira salvação. Uma vez que é verdade que "
Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? (1Joã 3:17), quanto muito mais isto é verdade a respeito daquele que não têm nenhuma preocupação pelo bem estar das almas dos outros? Deus tenha piedade do homem que destrói uma igreja: se ele de algum modo já é salvo, ele está se pondo a si mesmo debaixo do risco de julgamento através de morte física, quando coloca os seus próprios desejos e vontades egoístas acima do bem estar de uma igreja do Deus vivo.


V.POR EGOÍSMO

Todos os pontos prévios podem ser considerados como sumariados neste, mas arriscamo-nos a fazer mais alguns poucos comentários que caem mais especificamente debaixo deste título. Vivemos na mais afluente (rica) sociedade que este mundo jamais conheceu. Adicione a isto o fato de que esta geração tem maiores meios de levar o evangelho a cada raça, nação e tribo de povos, do que qualquer geração anterior. Rádio, TV, e imprensa fazem evangelismo possível como nunca antes o foi. Mas o que acontece? Ao invés de usar estes meios [e riquezas] para a glória de Deus, os homens se tornaram tão egoisticamente envolvidos por eles que todas estas coisas se tornaram definitivos detrimentos à verdade.

Tem sido constatado que pessoas gastam centenas de vezes mais em animais de estimação do que em todos os empreendimentos religiosos combinados, e o jornalista Paul Harvey relata que [aqui nos Estados Unidos da América] para cada 1 dólar que é gasto nas igrejas, 12.000 dólares são gastos em atividades criminosas. A partir desta constatação, deveria ser óbvio que estamos trabalhando no extremo errado do problema.

Há muitos campos de missão estrangeira nos quais um missionário nacional [isto é, daquele país] pode ser sustentado por somente 25 a 30 dólares por mês – não mais do que muitas pessoas [americanas] gastam mensalmente somente em cigarros. Todavia, de quantos crentes individuais [americanos] se ouve que fazem isto [sustentarem missionários de outros países para trabalharem neles]? Freqüentemente, quando as necessidades das missões são apresentadas à igreja pelo pastor, alguém contradirá com a proposição que “Mas devemos usar algum do nosso dinheiro em missões domésticas, aqui mesmo na nossa vizinhança". Bem, certamente missões locais [também] são essenciais, se elas forem verdadeiros projetos missionários [voltados exclusivamente para ganhar outras almas e edificá-las]; mas, desafortunadamente, muitas vezes o termo é usado para desculpar o dispêndio do dinheiro de Deus em algo que faz provisão somente para a natureza carnal dos membros da igreja, tais como ter a mais alta torre na cidadezinha, ou ter o prédio com o estilo mais moderno, ou ter o maior órgão de tubos, ou ter as mais enfeitadas batas de coral etc. Por "Missões Locais" alguns somente querem dizer: "Vamos gastar o dinheiro localmente em algo em que nós possamos ter todos os benefícios”. Pelo dinheiro que o povo de Deus tem gastado tolamente e para a mera gratificação carnal, nos últimos cem anos, o mundo poderia ter sido alcançado com o evangelho por diversas vezes.

O que tudo isto tem a ver com matar uma igreja? Apenas isto: contribuir para missões é o termômetro que mostra a atmosfera espiritual de uma igreja. É [geralmente] o medidor da dedicação dos membros de uma igreja a Deus. (Seja usando o nome “Missões nas Vizinhanças”, ou usando qualquer outro nome), o egoísta uso do dinheiro do Senhor  para a gratificação dos membros de uma igreja a matará tão rapidamente quanto quase qualquer outra coisa. Que Deus nos dê mais igrejas mais sãs e mais operosas e frutíferas, e que Deus faça isto através de mover os membros das igrejas a serem mais dedicados e obedientes.


Está você matando sua igreja pela sua pecaminosidade, por seu egoísmo, por sua negligência? Então se arrependa antes que a igreja e você sejam destruídos.




Davis W. Huckabee

Copiado do site da Tabernacle Baptist Church, Lubbock, Texas.
Traduzido [e adaptado] por Valdenira Nunes de M. Silva, 2002.